Desde que
criamos o Blog do Grupo MAMA – Mães que Apóiam Mãe na Amamentação, fiquei
devendo meu relato de amamentação. Mas decidi que faria um relato único, quando
fechasse o ciclo de todos os filhos. Hoje é o dia que sinto que posso afirmar
com certeza que meu pequeno Tiago, o caçula, não mama mais e assim posso
iniciar o meu relato.
Essa é,
felizmente, uma história de sucesso. Posso me orgulhar disso.
Mas vou
começar do começo.
Tenho na minha
cabeça um marco que influenciou demais o sucesso da amamentação dos meninos. No
final da gravidez do Pedro, meu primeiro filho, participei de uma palestra
sobre amamentação na qual ouvi a seguinte frase: “não existe não ter leite.
Toda mulher produz leite”. Pronto, simples assim. Entendi que eu poderia
confiar plenamente na minha natureza feminina que tudo daria certo. Nesse
momento aprendi também que eu não precisaria nunca de mamadeiras nem chupetas,
e a primeira coisa que fiz após a palestra foi correr numa loja trocar as
mamadeiras e chupetas que eu havia comprado guiada pela cultura de que esses
são itens indispensáveis a um bebê. Em nenhuma das três experiências, com três
bebês diferentes, senti falta de qualquer desses itens.
Pois então
nasceu o Pedro, de cesárea sem prévio trabalho de parto, e eu fui logo dando o
peito na sala de recuperação. Que emoção, uma boquinha naquele peito, que havia
preparado com tantos banhos de sol. Tive algumas dores por pequenas fissuras,
que resolvi facilmente com mais banhos de sol. Em quinze dias, a amamentação
estava redonda, sem dores, sem pegas desajeitadas. O leite deve ter demorado
uns quatro dias para descer, mas eu nem percebi quando isso aconteceu. Eu
simplesmente oferecia o peito sempre que possível e passava horas com ele no
peito. Nos primeiros meses, as mamadas duravam uma hora e meia, eram
longuíssimas. Meu leite nunca empedrou. Vazava muito pouco. Apenas no primeiro
mês, quando eu amamentava em um peito, pingava o outro, e algumas vezes que ele
fazia intervalos maiores, o leite descia e molhava o sutiã. Ele era um bebê
calmo, dormia bem, não chorava horrores, regurgitava um pouquinho, ganhava peso
bem, tudo isso me indicava que estava tudo bem com a amamentação. Seguia horas
a fio com ele no peito e aprendi a dar apenas um peito em cada mamada,
garantindo assim o esvaziamento da mama, o aproveitamos do leite gordo pelo
bebê e a saciedade da sua necessidade de sugar.
Hoje, percebo
que se eu quisesse, eu poderia ter achado que eu tinha pouco leite. Tinha
algumas amigas com bebês que tinham os peitos enormes, vazando bastante, doando
leite pra extravasar o excesso. Esse não era o meu caso. Eu segui lá, quietinha,
sem excesso de leite, com um bebê pendurado no peito, provavelmente para
estimular a produção. Mas confiante de que tudo estava bem. Nos momentos de
cansaço e dúvida, minha mãe me ajudava muito relatando o sucesso que teve na
minha amamentação por não ficar “controlando” a oferta do peito e percebi que o
peito era meu maior aliado na solução de quase todos os problemas. O peito não
é somente um alimento para o corpo, mas ainda mais para o emocional do bebê e
da mãe.
Lembro-me bem
que por volta dos 4 meses senti uma queda de produção, os peitos murchos, ele
lutando um pouco na hora de mamar, mas mais uma vezes lembrei da minha frase
guia e segui, oferecendo o peito. Nada como o bebê mamar para resolver uma
queda de produção. E assim superamos essa fase de baixa e chegamos aos 6 meses
de amamentação exclusiva. Que vitória, que alegria. Lembro que mês a mês eu ia
comemorando a conquista de mais um mês de leite materno e completar esse marco
foi muito importante.
Nesse período,
cada vez mais buscava me rodear de pessoas que acreditavam na amamentação e
conversar com mães que estava vivendo as mesmas experiências. Participava de um
grupo de discussão na internet, que me trazia muita informação e me ajudava a
mergulhar nas maravilhas dessa relação de simbiose que vivemos com nossos
bebês. Pra mim, informação era tudo, sabia tudo de tudo, estava sempre
buscando. Foi nesse momento, na busca por pessoas que vivessem essa mesma
realidade, que me uni a pessoas muito especiais e queridas, criando as reuniões
do Grupo MAMA, que se iniciaram na minha casa. Como era bom estar rodeada de
mães, ouvir suas histórias, pensar juntas em alternativas, buscar alívios para
as dificuldades. Acordar diversas vezes durante a noite é muito mais fácil (ou
menos difícil) quando se sabe que outras pessoas também estão acordando ... uma
dando suporte à outra. Um momento mágico em minha vida, que reflete até hoje na
mãe que me tornei e que sustentou, certamente, todas as outras histórias de
maternidade e amamentação que vivi.
Voltando ao
Pedro, introduzi lentamente os sólidos, tendo sempre o peito como principal
alimento até pelo menos um ano. Vale falar que novamente essa rede de apoio que
criamos foi riquíssima e ajudou demais nas escolhas de como oferecer comidas e
continuar valorizando a amamentação. Bom, a partir daí, a amamentação era algo
tão natural, tão automático, que não consigo me lembrar de mais detalhes. Não
conseguia pensar em desmame e acreditava que ele iria acontecer
espontaneamente, só não sabia como nem quando. Estava disposta a amamentar até
nem sei quando. Mas de repente, meu bebê de 1 ano e 7 meses se recusava a
mamar. Colocava a boca no peito, dava um sorrisinho e recuava. Esse
comportamento, aliado a outras suspeitas, me levou a fazer um teste de
gravidez, que confirmou a vinda do meu segundo filho. O Pedro parou
definitivamente de mamar e passou a tomar outro leite, que no início, optei
pelo de cabra. Sinto que para mim e para ele, aquele era o nosso momento, e
tivemos ambos, um desmame muito bem resolvido. Eu até admirava, mas realmente
não estava disposta a amamentar grávida.
Nasceu o
Rafael depois de um trabalho de parto longuíssimo. Pegou o peito logo após o
nascimento, mas só foi mamar mesmo algumas horas depois do nosso merecido
descanso. O leite desceu em 24 horas, ainda na maternidade. Então mamou sem
problemas, sem rachaduras, sem qualquer dificuldade, e principalmente, com
total confiança de minha parte. Mas mamava diferente do Pedro. Mamava rápido,
em pouco tempo, e logo largava o peito. Se eu oferecesse novamente, ficava até
bravo. E não tinha ritmo nenhum de mamada. Mamava quando queria, é claro, mas
cada dia mamava de um jeito. Como foi difícil entender o ritmo desse meu bebê.
Com ele eu tinha que estar sempre esperta, e era ele quem mandava totalmente.
Quando queria mamar, berrava e brigava se eu demorava para dar o peito. E se
não queria mamar, e eu oferecia, brigava ainda mais. Uma autonomia total, um
comportamento completamente diferente da minha outra experiência. E, novamente,
me deparei com minha certeza, tenho leite, basta dar o peito a ele o quanto ele
quiser, e teremos um processo de amamentação de sucesso. Assim foi. Exclusivo
até os seis meses, quando começou a comer rejeitando inicialmente os alimentos.
Demorou uns dois meses para se interessar mais pelas comidas, mas então
deslanchou e manteve o leite materno como seu principal alimento.
Com 1 ano e
pouco, Rafael experimentou o leite do irmão e adorou, amou na verdade. Confesso
que até me senti mal por não ter oferecido a ele antes algo que ele gostou
tanto. Mas não faria diferente, pois sei que o protegi do contato precoce com
um produto alergênico. Nesse momento, iniciamos o seu processo de desmame, num processo lento,
gradativo e numa cumplicidade silenciosa entre nós. Ele passou a tomar o leite
de vaca no copinho todas as noites, antes de mamar e dormir. Acho que esse foi,
com certeza, o primeiro passo. O segundo foi quando passei a limitar as mamadas
noturnas a apenas duas vezes, pois nessa época ele ainda acordava bastante. Ele
aceitou com facilidade e passou a acordar menos. Mas seguia mamando bastante
durante o dia.
Para
contar a seqüencia dos fatos, vou me valer de um relato que fiz na época,
aproveitando sua riqueza de detalhes.
“Há uns 15 dias, fiquei de cama 3 dias, com uma
gripe terrível e o Rafael ficou com minha mãe e outro familiares durante todo o
dia, mamou apenas na madrugada. Na seqüência, ele ficou doente, e, ao contrário
do que sempre ocorria, não pediu para mamar. Assim, as mamadas durante o dia
foram sumindo até sumirem completamente. A mamada da madrugada permaneceu mais
uma semana, mas fui ficando completamente sem leite, e a mamada não valia, mas
percebi que ele tinha fome. Há uns cinco dias, ele tem dormido direto até umas
6:30 da manhã, quando acorda e dou um copo de leite e ele dorme mais quase duas
horas.
Foi um desmame muito interessante. Há um mês atrás eu tinha a impressão
que ele não desmamaria nunca. Hoje, parece que ele nunca mamou. Aceita meu colo
sem o peito, está bem, feliz, seguro. Eu também me sinto bem, com missão
cumprida, pronta para iniciar essa nova fase na nossa relação. Ainda sai um
pouco de leite dos meus peitos, mas como a diminuição foi bem gradativa, acho
que meu organismo foi se adaptando. O interessante é que estou com o bico
direito super machucado, com rachadura, pois nos últimos tempos, ele estava com
uma pega terrível. Pela primeira vez na vida, estou usando Lansinoh.”
Passados
dois meses do desmame do Rafael, me descobri grávida novamente, e nasceu então
meu pequeno Tiago. Brinco que o Tiago poderia dar curso de amamentação para os
recém-nascidos, Nunca vi uma pega tão perfeita! Ele nasceu e veio direto para o
meu peito, que ficou sugando durante as três horas que fiquei na recuperação (por
conta de uma anestesia exagerada). Ele não largou o peito nem por um segundo, e
mamou perfeitamente. Não senti sequer uma sensibilidade nos bicos, prova de que
é a pega errada que causa os ferimentos. Em pouco mais de 12 horas após seu
nascimento, estava sentada na cama e senti uma tontura, depois percebi os
peitos encherem. Pela primeira vez, senti nitidamente a tal da apojadura.
Novamente, tive leite suficiente para amamentar meu bebê, mas sem excessos. Tive
uma leve monolíase nos bicos nos primeiros dias, em razão de uma forte queda de
resistência que me abateu no pós-parto. Resolvi com geléia real, banhos de sol
e hemeopatia.
Foi
uma delícia vivenciar nessa terceira experiência, a entrega absoluta, deixando
o bebê totalmente no comando. Com outros dois pequenos para cuidar, eu
simplesmente abaixava a blusa e dava o peito quando ele pedia, simples assim. Todo
lugar era lugar, todo jeito valia. Nada de se recolher, sentar na cadeira
perfeita, com uma jarra de água ao lado. Aliás, essa foi a amamentação que
tomei menos água, mas a que tive mais leite. Não tinha a menor noção de quantas
vezes ele mamava por dia ou por noite, tampouco sobre o tempo de duração das
mamadas. Não conseguia nem achar um relógio para dar aquela olhadinha curiosa
para tabelar, mesmo que mentalmente, as mamadas. Que delícia, que entrega
libertadora. Acho que realmente só nessa terceira oportunidade pude entender
completamente o significado da livre demanda, do bebê como um anexo ao seu
corpo. Amamentava de tudo quanto era forma, até cozinhando, preparando o prato
ou dando banho nos maiores. Queria mamar, pronto, resolvia a questão. Esse bebê
mamava, mamava, ganhava muito peso, e completamos mais uma vez os seis meses de
amamentação exclusiva. Descobri então que tinha meu gulosinho, que avançou e se
deliciou com todas as comidas que experimentou, tendo sempre, é claro, um
tempinho para ainda mamar muito. Esse foi o primeiro bebê meu que quis, ou
talvez, o primeiro que eu deixei, mamar no meio das refeições. Às vezes estava
comendo um prato de papinha, parava para uma mamadinha, e depois voltava para
raspar o prato, o que ele raramente deixou de fazer.
Muito apegado
a mim, o peito era seu porto seguro. Tudo que acontecia que lhe trouxesse
alguma insegurança, era no peito que ele encontrava seu consolo. Assim que
aprendeu a falar, chorava falando “mamá, mamá, mamá ...”. Tanto que quando eu
contei aos maiores que ele não mamava mais, o Rafael correu fazer o teste.
Arrancou uma coisa da mão dele pra ver se ele chorava pedindo pra mamar, foi
até engraçado. Enfim, mas o Tiago seguiu tomando apenas o leite materno até
completar um ano, quando descobriu o copo de leite dos irmãos, e passou a tomar
um copo pequeno junto com eles, todas as noites antes de ir pro quarto e mamar
pra dormir. Em menos de dois meses, já descobriu a diferença entre o copo dele
e o dos irmãos, e rapidamente exigiu que o dele também tivesse o achocolatado
... coisas de terceiro filho. E nesse ritmo seguimos alguns meses, tomando
leite e mamando antes de dormir a noite, além das diversas mamadas de dia e de
madrugada. Aos poucos, meu marido passou a colocá-lo para dormir algumas noites
sem que ele mamasse. Ele aceitava super bem, mas nas acordadas noturnas ainda
exigia a minha presença e o peito. Durante o dia, as mamadas se mantinham.
Quando ele estava com 1 ano e 4 meses, fiz o teste de eu mesma colocá-lo para
dormir sem dar o peito, e para minha surpresa, ele aceitou e incorporou essa
nova situação muitíssimo bem. Assim, antes do sono da noite e do sono da tarde,
ele parou de mamar. Mas ainda pedia para mamar em alguns momentos durante o dia
e nas acordadas noturnas, que acontecia um ou duas vezes por noite. Desse
momento até hoje, que ele está com 1 ano e seis meses, a relação com o peito
foi se distanciando aos poucos, bem lentamente, e com idas e vindas. Eu parei
de oferecer, e ele parou de pedir diariamente. Parou de acordar à noite, como
um passe de mágica. Parou de pedir o mamá nas situações difíceis. Para fechar o
processo, é claro, teve uma virose e ardeu em febre. Chegou a pedir o peito,
mas depois que sarou, não pediu mais. Não mama há pelo menos uns 4 ou 5 dias.
Passou a se contentar com meu colo sem peito, e hoje, acho que posso dizer que
ele, definitivamente, parou de mamar.
E assim, sinto
que completei mais esse ciclo, que fecha um ciclo maior, de quase 7 anos
nutrindo meus filhos com as forças do meu corpo, ora gestando, ora amamentando.
Sinto-me feliz e realizada.
Nesse meu
trajeto e na relação com tantas mães que convivi nesses anos, confirmei o que
ouvi lá no início: não existe não ter leite, e aprendi que o que existe é não
ter confiança e apoio. Mesmo quando tudo vai bem, sem dificuldades físicas,
como foi no meu caso, ter uma rede de apoio, se rodear de pessoas com ideais
semelhantes, faz toda a diferença. Obrigada a todas as queridas mamães que
passaram pelo Grupo MAMA. Tenho um pouquinho de cada uma de vocês dentro de mim
e da minha família.