Me preparei a gravidez inteira para o meu parto domiciliar. Lia tudo que passasse na minha frente, no entanto nem pensei no tema amamentação, achei que fosse simples e fácil, que o meu filhote iria para o meu peito, tomaria seu leitinho e tudo ficaria feliz: que engano!
Foram 10 dias de UTI, saí do hospital com meu filho, nascido em casa, mas que teve após o parto desconforto respiratório de causa desconhecida.
Saí do hospital sem orientação nenhuma, e achando que tudo estava resolvido. Meu filho não estava ganhando peso por isso o hospital não queria liberá-lo embora ele estivesse bem. Sua alta foi feita pelo nosso pediatra na época o Cacá. Na primeira noite em casa meu filho chorou a noite toda, de fome provavelmente, pois eu não tive a feliz idéia de levá-lo ao peito! Ficava olhando para ele o tempo inteiro, mas não me dei conta de que ele precisava se alimentar. Após uma noite inteira de choro, ligamos para a avó mais próxima, que sugeriu que déssemos leite artificial para ele. E assim foi feito.
Com uma semana de vida, após a maioria das mamadas era oferecido ainda 30ml de leite artificial. Eu simplesmente não acreditava que meu leite era suficiente para ele, mesmo com os peitos cheios.
Porém, o complemento não foi o único vilão do desastre inicial da minha história de amamentação. Após um mês, não entendia como meus peitos poderiam estar ainda tão machucados e feridos. Não havia nada que os fizesse cicatrizar, nem lansinoh, nem sol, nem casca de mamão e banana, nem secador nada… Eu tentei de tudo. Eu chorava o dia inteiro desconsolada pois não conseguia amamentar sem dor. Sentia fisgadas medonhas durante cada mamada e me lembrava quão melhor tinha sido sensação da dor do parto, perto da dor que eu sentia ao amamentar o meu filho. A cada fim de mamada eu prometia a mim mesma que ia comprar uma mamadeira para ele e desistir de amamentar.
Quando o Enzo completou 30 dias de vida, o diabinho do complemento ainda rondava a nossa mamada e então decidi: a partir de hoje não dou mais uma gota de leite artificial para ele, nem que meus bicos caiam. E assim foi. Eu amamentava com uma dor maldita, até que ele ficasse satisfeito. O suor escorria pelo meu rosto a cada mamada, cheguei uma vez a desmaiar de dor mas promessa é promessa e desde então nunca mais voltei atrás.
Sentia um vazio enorme, a dor ao amamentar era muito grande. Com ela vinha uma sensação de impotência muito grande, eu achava que não tinha leite, que meu filho estava magro, que eu não era capaz de nutrí-lo com eficiência. Não me passava pela cabeça que eu fui capaz de alimentar o meu filho durante 9 meses na minha barriga, por que não conseguiria agora?
Vivia o tempo inteiro verificando o estoque de leite nos meus seios. Eu realmente achava que eles precisavam estar sempre pingando de leite, que eles sempre deveriam estar cheios e quando eu os sentia um pouco murchos, eu começava a achar que meu leite ia secar. Tomei vários remédios, vivia fazendo compressas quentes para aumentar uma produção que já era abundante, no entanto eu não me dava conta. Era uma insegurança desmedida.
Mas a dor não melhorava nunca e eu cada dia que passava, pensava em desistir.
Após muito conversar com o Cacá, pediatra do Enzo, com as meninas da lista, da Matrice, navegar horas e horas na Internet em busca de uma possível solução, começamos a desconfiar que a pega dele pudesse estar errada e realmente estava. Consultamos uma fonoaudióloga especialista em amamentação que constatou alguns problemas: pega, posição e movimento da língua incorretos. Além disso ela afirmou que ele tinha uma sucção extremamente forte, que aliada a minha pele clara, contribuía ainda mais para machucar os meus seios.
Comecei então uma série de exercícios para tentar melhorar a pega dele, que realmente começaram a dar resultados positivos, no entanto meu peito nunca cicatrizava. O Enzo completava dois meses, a pega estava bem melhor que no início, no entanto meu seio continuava muito machucado, avermelhado e a dor na mamada era absurda. Em algumas mamadas eu tirava meu leite com uma bomba manual para não ter que oferecer o peito. Eram algumas mamadas de alívio.
Discutindo com os profissionais que estavam me ajudando, chegamos à conclusão que eu poderia estar com Monilíase mamária, ou candidíase, e comecei então a fazer o tratamento. Começamos com um remédio que eu passava no meu seio e no cantinho da boquinha do Enzo. Uma luz no fim do túnel: a dor começava a diminuir. Como eu fiquei feliz! Porém a minha felicidade durou pouco. Meu seio de uma hora para outra e sem explicação começou a piorar novamente e amamentar voltou a ser um pesadelo.
Novamente no médico, chegamos à conclusão que seria necessário que eu tomasse remédio via oral. Iniciamos então com uma dose baixa. Tomei comprimidos durante 14 dias, passava remédio no seio, na boquinha dele e nada do meu seio melhorar. O Enzo já estava com 3 meses e eu mal conseguia sair de casa, pois começava a chorar só de imaginar ter que amamentar em público e ter que conter a minha dor, fazendo cara de paisagem. Eu sentia dores horríveis. A vontade que eu tinha era de jogá-lo para cima na hora da mamada e eu me sentia muito mal por isso, pois o que eu mais queria era amamentar. Fomos para o último plano: remédio via oral em doses altas. E assim fiz. No começo comecei a ficar desesperada pois não via efeito nenhum e essa era a minha última esperança. Tomei esse remédio por 6 semanas consecutivas e perto do Enzo completar 4 meses comecei a sentir o verdadeiro prazer de amamentar, sem dor, sem medo, sem tensão.
Quando o Enzo tinha 3 meses, comecei a fazer estoque de leite materno para quando eu voltasse a trabalhar, o que aconteceria dentro de 3 meses. Aos poucos meu freezer estava cheio de leite, o que fazia com que a minha auto-estima aumentasse. Acho que isso ajudou muito a minha melhora.
No meio dessa corrida toda, eu mostrei meus peitos para tanta gente em busca de uma solução para minha dor. Só não usei como remédio titica de galinha, do resto eu fiz de tudo: vitamina C, sol, complexo vitamínico, banho de luz, secador, pomadas mil, conchas, absorventes, seios amostra, cascas de frutas.
Meu histórico para uma amamentação bem sucedida era catastrófico: bebê internado 10 dias na UTI, pega completamente errada, a pele do seio bem clara, sucção forte, falta de informação, insegurança, seios machucados, monilíase e embora meu filho ganhasse um peso adequado à curva de crescimento, ele tinha um estereótipo magro e todo mundo que o via, dizia que ele estava magro, sugerindo que meu leite não era suficiente ou era fraco, e quando ele chorava, sempre escutava palpites que era de fome, pois um bebê magro normalmente não parecia estar bem alimentado, uma vez que não era um bebê gordo na visão das pessoas.
Todo esse sofrimento para amamentar, não foi em vão. Eu sofri a cada mamada mas ao mesmo tempo eu fui muito atrás de informação: lia livros, sites de amamentação, conversava muito com gente que acreditava que da mesma maneira que eu fui capaz de gerar, nutrir e parir, eu seria capaz de amamentar o meu filho exclusivamente.
Tudo o que aprendi neste tempo, tento colocar em prática, ajudando mães a ter auto-confiança a amamentar exclusivamente.
Com 5 meses decidi alugar uma bomba elétrica para aumentar a minha produção e consecutivamente meu estoque no freezer. Com 6 meses voltei a trabalhar. Tiro meu leite no trabalho 2 vezes por dia, deixo na geladeira e transporto para casa no final do dia. Separo o leite em potes menores, coloco no freezer, somando-se ao estoque que já tinha. Mesmo passando no mínimo 12 horas fora de casa, continuo amamentando. Amamento antes de sair, quando volto e ele ainda não está dormindo e ele toma meu leite outras 3 vezes durante o dia enquanto eu estou fora, além de ter uma alimentação variada.
Hoje sei que tudo o que eu passei talvez eu precisasse passar para então ajudar tantas mães com quem tenho conversado e dividir tudo o que eu aprendi. Hoje sei que amamentar não é fácil, mas que a tranqüilidade é tudo e é fator determinante para o seu sucesso. Hoje sei que meus seios nunca precisariam estar cheios de leite, para que meu filho ficasse satisfeito. Hoje entendi que muitos dos meus sofrimentos foram inúteis e que poderiam ser amenizados com um mínimo de informação sobre a dinâmica do leite.
Meu filho hoje está com 10 meses, é um bebê saudável e extremamente feliz. Meus peitos hoje não enchem mais, mas eu me sinto extremamente segura de que tenho leite suficiente para deixá-lo satisfeito a cada mamada e que toda a passagem da minha amamentação, só contribuiu para que eu ajude muitas mães que hoje passam pelas mesmas inseguranças que eu passei.
Gisele, mãe do Enzo,
nascido em 02 de setembro,
de parto domiciliar.
Amamentar é a verdadeira junção das palavras mamãe e amar.
9 comentários:
Muito bonito seu relato, sua persistência, você conseguiu superar tudo e ainda usar suas dificuldades como um forma de crescimento para ajudar os outros.
Precisamos de mais pessoas no mundo com sua força!!
Gisele fiquei emocionada ao ler seu relato,é maravilhoso o amor de uma mãe, penso que só uma amor assim tão intenso dá forças à uma pessoa para superar tantas dificuldades e seguir em busca do seu objetivo. Com certeza você colherá frutos lindos da sua persistência. PARABÉNS....seu Enzo é lindo!
obrigadooooooooooooo, agora minha esposa esta mais calma e amanaha vamos ao consultorio...essa dor parece ser a mesma que voce teve...moniliase....
Eu tb achei que amamentação fosse ser mais fácil,mas realmente é muito dolorido,fico torcendo para que minha filhinha durma mais um pouquinho,só para adiar um pouco a dor;mas quando vejo ela no meu colo, tão linda,e tão faminta, agradeço a Deus por ela ser saudável e ter essa fome toda.
Nossa... que relato!!! Tbm passei por maus momentos pra amamentar. Ficava desesperada e meu sentimento em relação a hora de mamar era igual ao seu.Não tive nenhum problema com meu primeiro filho, mas nosegundo tive tudo!!! Mas é bom ver que ainda existem as mães que não desistem!!! Foram dois meses de desespero, mas agora é uma bênção!!! Devemos agradecer a Deus por sermos persistentes ! parabéns e felicidades ...
Foi muito fortalecedor esse seu depoimento estou passando por algo semelhante meus seios racharam e minha princesa não consegue mamar.
Estou precisando de ajuda!
Estou passando pelo mesmo problema e não sei mais o que fazer. A minha bebe já está com 2 meses e meio e eu ainda sentindo muita dor. No centro de lactação onde tenho ajuda dizem que a pega está correta, já usei remédio pra candidiase, millar, bepantol, dersani, massê, sol, luz e nada resolve. Sinto dores fortissimas nas costas e tomo relaxante muscular todos os dias pra diminuir um pouco a dor. Não sei mais o que fazer. Tenho um pote de NAN mas prometi pra mim mesma que não vou dar, vendo seu relato achei legal, pois foi o mesmo que vc fez rsrsrs... to na luta, qdo será que essa dor vai passar?
ઇઉ Pensamentos e devaneios ઇઉ
Acho que as vezes vale vc fazer uma cultura para saber se não tem alguma bactéria em vez de ser monilíase.
Tenho uma amiga que após alguns meses sem sucesso no tratamento fez cultura, descobriu uma bactéria, fazendo o tratamento especifico melhorou um menos de uma semana.
Parabéns pela sua persistência! também estou vivendo um drama para amamentar... a minha filha está com 2 meses e está com a pega incorreta. Eu não consigo arrumar, por mais que tente. Já tentei conselheiras de amamentação, já tentei o PROAMA, que é um programa aqui de Curitiba que ajuda as mães e nada! ela não tem nenhum problema de fono, simplesmente não quer abrir mais a boquinha para pegar mais. Como tenho bastante leite, para ela é mais conveniente pegar o bico... a amamentação só fica mais tranquila uma hora depois que tomo o paracetamol... pois é, tenho que tomar para amamentar...
Mas enfim, estou persistindo e não desisto de jeito nenhum, pois sei o quão importante é a amamentação para a vida toda da minha pequena Érica.
Me disseram que a pega corrigirá com o crescimento da boquinha da pequena, então vamos ver o que acontece!!! e firme e forte!!
Parabéns a todas como você que persistem! Agora vou amamentar.
Abraços, Mônica.
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